sexta-feira, 10 de maio de 2013

Stronger

As dores estão insuportáveis. A minha cabeça, parece uma feira, onde cada um tenta gritar mais alto. Já estou nesta cama há duas semanas. Cada vez me sinto mais sozinho. As paredes encardidas do hospital, parecem cada vez mais escuras, a cada dia que passa. E a luz, ah..essa parou de brilhar. As janelas ferrugentas, parecem o som estaladiço de batatas fritas, pois abrem e fecham consoante o zangado vento que sopra lá fora. Que saudades que tenho de sentir a leve brisa de ar puro, percorrer a minha pele, arrepiar a minha espinha. Mas nada. Nada disso é possível. Pois tudo o que me obrigam, é passar os dias nesta cama, á espera que a morte me venha chamar. Talvez, em tempos ainda tive esperança. Sim, esperança..uma palavra tao grande mas com significado tão pequeno. Tal como o meu coração. Que lentamente bate dentro do meu frágil peito. Nunca tive a oportunidade de amar. E sinceramente não sei se queria. Pois o amor leva-nos a cometer loucuras. Tal como as enfermeiras do hospital, que ainda tem esperança que ao tomar a medicação, eu alguma vez irei melhorar. Também nunca sobe muito bem o que era o amor..ou o que era ser amado. Estou habituado á desistência. Tal como todas as pessoas fizeram em mim. As pessoas que nos devem amar e proteger..são sempre as primeiras a fugir de situações complicadas, tal como esta. Acho que esta doença levou o melhor de mim. Fez-me desconfiar das pessoas e claro..esperar que desistam de mim. Mas não estou sozinho. Muito pelo contrário. Esta doença é a minha única companhia. Invade o meu corpo de cima abaixo. Da ponta do meus pés, até á mais pequena célula. Mas hoje, hoje senti-me um pouco melhor. Ganhei forças, e procurei, no horizonte do hospital, algo que me fosse impedir. Nada. A costa está livre. Soltei-me de todos os tubos, que me ligavam a loucas máquinas durante dias. Senti os meus pés tocar no frio do chão, e levantei o meu corpo, e pus-me de pé. Mas falhei. Como sempre. Caí, no chão, com se tivesse a saltar de uma montanha. Fiquei inconsciente durante uns minutos mas depois voltei a mim. Cada vez, com mais vontade, de mostrar a toda a gente que era capaz. Apoiei-me nos meus cotovelos, fazendo quebrar os meus fracos ossos. Fui encostando-me e agarrando-me ás coisas que estavam no quarto. Abri a porta do quarto. Ainda havia tempo, para voltar atrás. Voltar para a cama, e esperar que o meu corpo para-se de funcionar. Mas não. Era agora ou nunca. Tremendo, abri a maçaneta da porta, caminhando até á porta de saída do hospital. Passei, os assustadores corredores do hospital, á espera de ver uma vez mais a luz. Pé, ante, pé, ante, pé.. caminhei até á porta. As portas giratórias abriram-se, sentindo a minha presença. Cada parte da minha pele arrepiou-se, ao sentir a leve brisa de primavera, percorrendo as minhas costas, enviando arrepios á minha espinha. Estava tudo a correr bem, até que..senti uma leve dor, na minha nuca. Fiquei fraco, e caí ao chão da rua, vi uma luz. Uma luz. Brilhante, que iluminava cada pedaço de terra ao seu caminhar. Vinha na minha direção. Mas porquê? Será agora o fim? Depois de debater-me com cancro, nesta duas semanas, iria acabar assim? Pois.. parece que sim. Senti a luz a pegar na minha frágil mão, e levantar-me. Como se estivesse a dar ajuda. Peguei na mão da bela criatura, e segui-a..segui-a..segui-a. Á medida que me afastava, vi o meu corpo deitado no chão. Estava tão pálido e tão..sem vida. O corpo que me trouxe momentos de alegria. Tristeza. O corpo com que dei os primeiros passos. Esse corpo estava agora..morto.

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